Arte culinária
O que conecta um cozinheiro alemão estrelado, um empresário de Taiwan e um chef de cozinha de Hong Kong? Um requintado restaurante gourmet em Taipei. Porque eles têm sonhos semelhantes, paixões em comum e apetite por inovação.
Quem abre a enorme porta de madeira do Noke Mall para o La Vie by Thomas Bühner é transportado para um outro mundo. Depois de percorrer as vibrantes ruas de Taipei, sob o brilho piscante de luzes e letreiros luminosos, adentramos um lounge sofisticado. O teto é alto e as cores são naturais – nogueira, cinza rochoso e elementos dourados aqui e ali. Calma é a primeira sensação que o ambiente transmite. Serenidade.
“Bem-vindos a Taipei”, diz Una, da equipe de serviço, conduzindo os comensais a uma janela panorâmica. O restaurante tem 27 lugares. As mesas, sobre tapetes em tons verdes suaves ou azuis claros, parecem ilhas, nas cores dos rios, lagos e baías de Taiwan que se pretende reproduzir aqui.
Una acende solenemente a luminária sobre a mesa. O espetáculo pode começar.
O menu de degustação tem onze pratos, e os canapés já são pequenas obras de arte: finos rolos de massa recheados com purê de abóbora, croustades de milho doce em forma de conchas tenras, bolinhos redondos decorados com enguia defumada.
Iniciada a degustação, começamos a compreender: aqui não se come – se vivencia. Sabores, texturas, sensações. “Apostamos em uma diversidade de paladares”, diz Thomas Bühner, que se sentou à mesa conosco. Ele descreve a culinária aromática multidimensional servida aqui: “É bom ouvir alguém tocando violão em torno da fogueira. Mas, aqui, toda uma orquestra se apresenta – com instrumentos distintos, sons suaves e baixos mas também altos e intensos, e com dramaturgia própria.”
Dramaturgia é uma boa palavra-chave. Porque antes de seguir com o cardápio, surgem dúvidas: o que faz Thomas Bühner em Taipei? Por que o reconhecido chef alemão abriu um restaurante logo aqui? Para respondê-las, precisamos partir daqui por um momento e embarcar numa viagem…
Primeira parada: Alemanha
Paderborn – pouco mais de uma hora de carro a leste de Dortmund. Foi onde cresceu Thomas Bühner, nascido em 1962, filho de uma dona de casa e um funcionário administrativo, com um irmão gêmeo e uma irmã. Quando terminou a escola, Bühner ainda não sabia o que faria da vida. Então foi ao centro de empregos e fez um teste, que indicou padeiro, cozinheiro ou agricultor. E disse aos pais: “Vou ser cozinheiro – mas dos bons!” E complementou: “Quando tiver 30 anos, vou dirigir um Porsche!”
No começo, contudo, levou uma surra. No treinamento em um restaurante em Paderborn, ele não raspou direito a manteiga de escargot da tigela – e levou um golpe da espátula de borracha do professor. “Melhor desistir”, disseram os pais, que queriam protegê-lo. Mas Bühner disse não. E preferiu mostrar ao chef do que era capaz. Graças ao seu bom desempenho, ele logo abreviou sua formação e foi contratado pelo Hotel Hilton em Düsseldorf. Que tinha três restaurantes – um deles com uma estrela Michelin. “Que loucura”, ele pensou.
Nos anos seguintes, Bühner trabalhou com alguns dos melhores cozinheiros da Alemanha – e acabou por se tornar um deles. Sua primeira estrela Michelin foi conquistada em Dortmund em 1996, aos 34 anos. Ele comprou seu primeiro Porsche no ano seguinte: “Um 911, geração 964, preto por dentro e por fora.” Bühner recebeu a segunda estrela em 1998.
Oito anos depois, foi para o La Vie em Osnabrück e o tornou um dos melhores restaurantes do mundo. A partir de 2011, o La Vie ostentou três consistentes estrelas Michelin – que, contudo, apagaram-se em 2018, quando a siderúrgica que financiava o templo gourmet reestruturou seus negócios e optou por descontinuar o restaurante. Foi a primeira vez que Bühner confrontou-se com a realidade da gastronomia de ponta: uma cozinha estrelada geralmente só dá lucro com o patrocinador certo como parceiro.
“A princípio, eu não tinha um roteiro para isso em mente”, diz Bühner. Mas tomou uma decisão: em vez de assumir imediatamente um próximo restaurante, rodou o mundo como chef convidado e consultor de projetos de alta gastronomia.
Segunda parada: Taiwan
Foi assim que ele desembarcou em Taiwan em 2019. Um hotel cinco estrelas no sul da ilha havia lhe pedido para montar um restaurante fino. Bühner, apaixonado pela Ásia, aceitou e partiu para conhecer o país. Gostou da simpatia das pessoas, da variedade de produtos e da topografia da ilha, cujo pico mais alto tem quase 4.000 metros de altura, seguido por mais de 60 outras montanhas com mais de 3.000 metros. “Taiwan também é incrivelmente verde”, entusiasma-se Bühner. Um outro aspecto lhe agradou: o espírito de “mão na massa” que sentiu aqui.
Foi precisamente essa disposição que o uniu ao seu atual parceiro de negócios Ray Wu, fundador e CEO do Suntek Motor Group, que é um dos três parceiros de distribuição da Porsche em Taiwan. Wu e Bühner se conheceram em uma reunião de trabalho e constataram: “Temos a mesma ideia.” Ambos queriam levar a rede de restaurantes mais conhecida de Taiwan para a Alemanha. Então se uniram e desenvolveram um conceito.
No entanto, a pandemia de Covid-19 atravessou seus planos. Para a cadeia de restaurantes, não parecia ser o momento para grandes saltos. Mas algo mais aconteceu nesse ínterim: os dois viram que se davam muito bem. Quando lhes perguntamos o que admiram um no outro, Bühner diz: “Onde outros veem problemas, Ray enxerga oportunidades. É um empreendedor nato, além de cosmopolita e sagaz.” Wu, por sua vez: “Thomas não é só um superchef, pois também pensa como um artista.”
Os dois seguiram em contato – até que, em 2021, Wu enviou um e-mail a Bühner: “Ei”, escreveu ele, “se não podemos levar a ideia do restaurante de Taiwan para a Alemanha, por que não trazemos sua ideia de restaurante para Taiwan?“ Bühner refletiu e respondeu: “Por que não? Vamos conversar!”
Terceira parada: paixões em comum
Para entender melhor de onde nasceu essa aventura conjunta, uma viagem com os dois ao sul da ilha pode ajudar. Ali, Ray Wu e seu Suntek Motor Group não apenas operam um novo Porsche Studio em Tainan, mas também um autódromo.
“Trabalhar com a Porsche era meu sonho desde criança”, diz Ray Wu, um sujeito dinâmico de 55 anos e riso efusivo. Porém, seu caminho também não estava traçado desde o berço. Ele cresceu numa das áreas mais pobres de Taiwan. Mas tinha um objetivo: o ramo automotivo.
Então fundou um motoclube durante a faculdade e mais tarde começou a empreender. “É uma marca dos sonhos”, diz ele. Mas Ray Wu queria ir mais longe e oferecer ainda mais aos seus clientes. Todo um estilo de vida com experiências especiais. “Muitos aqui associam a Alemanha principalmente a carros e máquinas”, diz Wu. “Eu queria mostrar que é muito mais do que isso.” Para ele, isso inclui justamente comida refinada e o prazer que essa experiência traz.
Agora os carros já estão a postos no circuito de corrida. A pista de grau 2 da FIA tem 3,5 quilômetros de extensão. Os dois homens colocam o capacete e trocam tapinhas no ombro. Wu sobe na edição especial criada pela Porsche Exclusive Manufaktur para o 50º aniversário da Porsche em Taiwan – um 911 Carrera GTS (992) em Verde Irlandês. Em um leilão beneficente, a Suntek adquiriu o carro, que homenageia o primeiro Porsche vendido em Taiwan, um 911 E em 1972.
Ainda na cor Verde Víbora na época, ele também fazia referência aos cumes arborizados da ínsula. Bühner assume o 911 GT3 RS (992) – em casa, na Alemanha, ele dirige um GT3 Touring em Cinza Ágata Metálico. Os motores roncam e os dois logo disparam. E só retornam muitas voltas depois, com um sorriso satisfeito.
Juntos eles desfrutam de sua paixão na pista de corrida. E juntos desenvolveram um conceito totalmente novo para o La Vie. “Por onde começar?”, foi a primeira pergunta de Ray Wu para o planejamento do restaurante de alta gastronomia. “Temos que escrever o que queremos”, disse Bühner. Então tomaram nota: era para ser “uma culinária aromática europeia de vanguarda. Com produtos de Taiwan e tudo de melhor do mundo.” Além disso, a paisagem da ilha deveria se refletir no design do restaurante. E logo também se deram conta: Xavier Yeung tinha que participar.
Bühner já havia trabalhado com o talentoso chef de cozinha de Hong Kong e constatado: “Tenho uma conexão de alma com Xavier.” Esse denominador comum era importante. Afinal, no novo La Vie, Bühner não estaria na cozinha – seria mais como um patrono do conceito do restaurante.
Yeung aceitou. Quando perguntamos ao simpático chef de 37 anos, com experiência em restaurantes de duas e três estrelas em Hong Kong e Macau, sobre o que o inspira ao cozinhar e elaborar seu cardápio sazonal, ele reflete por um instante. Além de excelentes produtos e atmosferas como de um dia quente de verão, ele também cita os mercados noturnos de Taiwan.
Quarta parada: mercados noturnos
De fato, é difícil compreender a ilha sem ter visitado um mercado noturno pelo menos uma vez. “Um mercado noturno é como uma pequena Taiwan”, diz Ray Wu no percurso no Panamera pela noite de Taipei.
Afinal, ali há muito do que a ilha tem a oferecer, em um espaço reduzido. E não só isso: é uma singular e maravilhosa enxurrada sensorial.
Nuvens de vapor pairam sobre as barracas de comida do Raohe Street Night Market, no leste de Taipei. Ele fica em um beco de apenas 600 metros de extensão, mas abarrotado de barracas, pessoas, impressões, cheiros. Há omelete de ostras, polvo frito, chá de bolhas, dumplings e frutas de todos os tipos: abacaxi, goiaba, durião, mamão. Nas margens do beco, você pode tentar a sorte nas máquinas caça-níqueis. Ou consultar um dos muitos cartomantes também presentes – que preveem o futuro em cartas tiradas por tartarugas ou por pássaros em gaiolas ao seu lado. Em suma: tais mercados noturnos são uma explosão de atmosferas e aromas. É exatamente o que têm em comum com a comida do La Vie by Thomas Bühner, mesmo que de maneira completamente diferente.
Quinta parada: de volta ao restaurante
Da cozinha semiaberta do restaurante, um prato após o outro chega fumegante à mesa – muitos deles quase bonitos demais para serem tocados. Como o prato de ostras: em um mar de espuma branca extraída da fruta cítrica japonesa daidai, flutua uma ilha de geleia de algas decorada com caviar e uvas-do-mar. O tartar de ostra esconde-se logo abaixo. Outro prato parece um alegre canteiro de flores, em tons amarelos vibrantes de mariscos, cuscuz e curry.
“Agora faremos uma viagem ao País Basco”, diz Xavier Yeung, servindo um prato com um peixe chamado kinmedai ao lado de minipolvo recheado, chouriço condimentado e uma fina emulsão de pimenta. Tudo é um espetáculo mágico onde os sabores reverberam por muito tempo. Além disso, Yeung comete uma ousadia: ele também prepara pratos de coelho – algo incomum para o paladar taiwanês.
“Tentamos criar um equilíbrio entre gastronomia europeia e sabores locais”, diz Yeung. Para isso, Bühner e ele trocam ideias regularmente. Bühner fala de pratos que comeu em outras partes do mundo ou lhe envia receitas. E toda vez acrescenta: “Agora é a sua vez de se torná-los seus.” Ele confia no seu chef e em suas criações.
Dentro de alguns dias, Thomas Bühner partirá de novo. Primeiro para Pequim, onde administra o restaurante Rong by Thomas Bühner desde o final de 2023; depois para Bangcoc e então Istambul, onde o Taste by Thomas Bühner existe desde novembro de 2024. Em abril de 2025, um segundo La Vie by Thomas Bühner se seguirá em Düsseldorf. Quem ouve a lista de todos os seus planos fica até um pouco tonto. Às vezes seus amigos perguntam: “Não é muito para você?” “Não”, ele responde sorrindo. “A vida é uma aventura. Resta-nos ir o mais longe que pudermos.”
Dados de consumo
911 Carrera GTS
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11.0 – 10.5 l/100 km
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251 – 239 g/km
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G Class
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G Class
911 GT3 RS
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13,2 l/100 km
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299 g/km
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G Class
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G Class
911 GT3 with Touring Package
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13.8 – 13.7 l/100 km
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312 – 310 g/km
-
G Class
-
G Class
Panamera
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10.5 – 9.7 l/100 km
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239 – 219 g/km
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G Class
-
G Class