Sob a pele

No início de setembro, ele foi a atração do Salão do Automóvel da Alemanha (IAA) em Munique: o Mission R. O carro de corrida 100% elétrico foi, primeiramente, só uma visão. Uma ideia de como seria a linguagem de design do futuro – no exemplo de concept car de um veículo 100% elétrico da Porsche para automobilismo de clientes. 

O design – tanto por dentro como por fora – fascina, polariza, incita a discussão. Assim deve ser. Protótipos são pesquisas de mercado com objeto. Muitas vezes, são apenas carrocerias belamente estilizadas. Show cars sem motor, sem tecnologia debaixo da carroceria. O Mission R, porém, já é um carro de corrida de alto desempenho.

“Assim é a filosofia Porsche” Michael Behr

“Assim é a filosofia Porsche”, afirma Michael Behr. O diretor técnico de projetos é responsável por orquestrar as equipes envolvidas com o Mission R e por monitorar a viabilidade. “Naturalmente este protótipo é antes de tudo um show car, mas também cumpre as mais altas exigências técnicas.” 

Por baixo da “pele” apresentada, implementou-se a estratégia Porsche de sustentabilidade e responsabilidade social. Enquanto a empresa já roda só com energia elétrica na Fórmula E, usa combustíveis sintéticos no Porsche Mobil 1 Supercup e desenvolve um novo carro de corrida híbrido para competições de longa duração a partir de 2023, ela concebe o Mission R para o automobilismo elétrico de clientes.

“Eu me diverti como uma criança!” Lars Kern

A Porsche não costuma exibir protótipos tão futuristas. Mas quando o faz, é comum nascer daí uma história de sucesso. Como o Boxster. Seu protótipo foi lançado em 1993, em Detroit. Ou o Carrera GT: Walter Röhrl o pilotou em 2000 até o museu do Louvre, em Paris. Em 2010, o protótipo do 918 Spyder foi apresentado em Genebra, na Suíça. No salão IAA de 2015 esteve o antecessor do Taycan, Mission E. Behr também dirigiu a equipe do Mission E. “São tarefas com prazos apertadíssimos”, admite, “mas, ao mesmo tempo, sonhos de engenheiro que começam em uma folha de papel em branco.” O Mission R não teve modelo a ser seguido. Ele é o modelo.

Pensamento estratégico realista

Para as exigências da Porsche, não basta projetar um chassi sobre rodas que represente uma visão do departamento de Design. O espírito de Weissach também exige desempenho dos protótipos. No processo de criação, cada passo é executado no Computer Aided Design (CAD) com a mesma qualidade de um carro pré-série.

O Mission R dispõe de tração integral e desempenha 800 kW (1.088 cv). A potência é fornecida por dois motores elétricos. Também fabricados em Zuffenhausen, como a embreagem de uma marcha. Com uma meta de peso abaixo de 1.500 quilogramas, o esportista deverá fazer uma arrancada de 0 a 100 km/h em menos de 2,5 segundos. Dependendo da relação da transmissão, a velocidade máxima irá além dos 300 km/h. 

Graças ao sistema de refrigeração direta do estator – o elemento do motor elétrico no qual o rotor gira – as unidades entregam uma potência contínua muito alta. O carro de corrida futurista vem com circuito de refrigeração a óleo único e não requer uma gota d‘água. O sistema de refrigeração direta a óleo da bateria de alta voltagem se baseia numa inovação criada para o tricampeão de Le Mans, Porsche 919 Hybrid. A suspensão também é uma avançada tecnologia do automobilismo e se distingue com uma suspensão dianteira dupla. Até mesmo um para-brisa com aquecedor foi concebido, permitindo boa visibilidade em corridas sob chuva.

“Ao mesmo tempo, tentamos aproveitar o último potencial da construção leve em cada detalhe”, explica Behr. Exemplos? Uma tampa de embreagem impressa em 3D é cerca de 30% mais leve do que a fundida. O desempenho adicional dos freios durante a recuperação permitiu cortar doze quilogramas no sistema de freios. A “pele”, ou seja, o revestimento externo de compósito não é somente leve como pena, mas também sustentável: nele predominam as fibras naturais, arrematadas por componentes de fibras de carbono.

Weissach simboliza a excelência em engenharia, mas também a arte de trabalhos manuais. O projeto do chassi do protótipo secreto foi construído em Flacht, no departamento de Automobilismo. Depois foi para o Prédio 100 – uma ala de alta segurança abaixo do estúdio da Style Porsche, em Weissach. Aqui foram criados a forma exterior e o espaço interior.

Teste de direção na realidade

Entre essas estações, o chassi visionário precisa de ar fresco – ainda sem a carroceria protetora, ele sai para o teste no skid pad da pista de testes particular da empresa. Esse primeiro teste funcional, a menos de meio ano do lançamento no salão da IAA, representa um importante acontecimento. Nele não importa que muitos dos componentes ainda sejam provisórios. Para o roll-out basta uma estrutura de aço, a gaiola final de compósito ainda precisa ser projetada. O banco, o volante e os pedais também ainda são peças de carros de corrida existentes, as rodas ainda não estão com o parafuso de fixação central convencional. A máquina que Lars Kern dirige parece nua. Ele também – os colegas ao seu redor ainda vestem grossas jaquetas de plumas de ganso neste dia gelado de primavera. “Já tive dias de trabalho mais quentes”, lembra o engenheiro de desenvolvimento rindo, “mas, também, dias muito piores. Colaborar em um projeto como este é incrivelmente emocionante. Eu me diverti como uma criança!” Repetidamente, ele sai para a pista de testes na máquina inacabada. Depois de trocados alguns conjuntos de pneus, o balanço dos freios entre os eixos dianteiro e traseiro está perfeito. “O que mais me surpreendeu foi o quão avançado o carro já estava. E, claro, o enorme torque liberado instantaneamente e todo o dinamismo veicular. Foi quando percebi: aqui surge algo que irá proporcionar muita diversão.”