Mark Webber

Salto no tempo

“Alegro-me com o futuro” Mark Webber

Ixy é insistente. O robô de serviço está sempre querendo fazer alguma coisa, e Mark Webber tem sempre que enxotá-lo com um rápido movimento de mão quando a maquininha mais que zelosa começa a mexer a colher de seu chá ou ajeitar sua almofada. “Ele ainda é novo e tem que aprender o que pode ou não pode fazer”, explica o ex-piloto de corridas de 61 anos. Webber suspira baixinho, quando Ixy, procurando ocupação, começa a polir os capacetes de corrida de seu dono com uma flanela tirada magicamente de um compartimento em sua barriga. O robô ronrona de satisfação, pois finalmente pode fazer aquilo para o que foi feito.

A coleção de capacetes é o repositório de lembranças de Webber. “Olho para a frente e alegro-me com o futuro. Mas também sou grato pela minha carreira e orgulhoso de meus sucessos. Por isso guardei uma série de objetos muito pessoais, que me recordam de corridas especiais.” Por exemplo, o capacete com o qual deu sua primeira volta em um percurso de Fórmula 1, em 2002. O kit completo de sua vitória no Grande Prêmio de Mônaco de 2010. E o capacete com o qual venceu o Campeonato Mundial de Endurance da FIA em 2015 com um Porsche 919 Hybrid. “Troféus são bonitos, mas luvas e capacetes me são mais próximos.”

Para o CEO da firma CarGo, uma das maiores frotas de carsharing de veículos autônomos do mundo, fundada em 2027, as novas tecnologias, os seres artificiais cada vez mais inteligentes e os carros que agem por si próprios são o seu cotidiano empresarial. Porém, mesmo em 2038, Webber mantém seu amor pelo analógico, pelo artesanal e sobretudo pela direção manual. Ao mesmo tempo, o domicílio de Webber é equipado com a mais moderna tecnologia SenseHome, que, já à porta de casa, registra seu humor através de sua pressão arterial, escaneamento de pupila e análise de voz, reagindo com a iluminação e a música adequadas.

Mas entrar na garagem de Webber é como fazer uma viagem no tempo. Quase pode-se esperar alguém telefonando com um smartphone ou fazendo um selfie com um dos carros – a década de 2010 e sua curiosa e desajeitada tecnologia! A pequena coleção de Webber vem, em grande parte, de uma época ainda mais antiga: ao lado de um Porsche de 2020, na época o primeiro modelo totalmente elétrico de Zuffenhausen, estão um 356 de 1958 e um 911 de 1992. Nenhum carro autônomo, nenhum carro novo – afinal, sendo chefe da CarGo, Webber utiliza o sistema de carsharing inteligente também na vida particular. Basta um toque no selo da marca em seu smartphone para requisitar um automóvel da frota. Em meio à sua coleção de veículos, ao contrário, a pessoa se sente como em uma cápsula do tempo. Apenas um “Raven” (“corvo”), soando baixinho em sua docking station, nos faz lembrar que estamos no ano de 2038. Um leve aceno e o microdrone preto é acionado, voando um elegante arco e pairando no ar entre os dois Porsche mais antigos. Às vezes Webber leva-o junto quando sai para dirigir um dos carros. Então o drone dispara a seu lado como um corvo manso e bizarramente acelerado para então subir ao céu de repente. Assim, ele filma o carro continuamente em qualidade cinematográfica, além de gravar o som que Webber tanto ama em seus clássicos. Claro, os carros elétricos o fascinam, “mas quando os dirijo, é como se estivesse em um show de rock com o volume desligado.”

O amor ao que é verdadeiro fica

No seu blogue de lifestyle, ele escreve justamente sobre essas experiências sensoriais e imediatas. Webber quer conservá-las para os seus contemporâneos, que cresceram em um outro mundo, um mundo esmagadoramente digital. Ele diz que às vezes tem receio de que as pessoas desaprendam a realizar as tarefas mais simples, por não precisarem mais executá-las. Como dirigir um carro. Então ele escreve sobre o prazer ao volante – embora, paradoxalmente, não raras sejam as vezes em que esses artigos sejam escritos enquanto Webber se deixa levar a seu próximo compromisso justamente em um dos carros autônomos da CarGo.

Mesmo que às vezes Webber desfrute do conforto de abdicar do volante, ele nunca poderia imaginar passar totalmente o controle para o carro. “Eu simplesmente gosto de dirigir e acho que sou um motorista bastante razoável”, confessa ele com uma piscada de olhos. “E sou bem das antigas. Gosto de cortar lenha e fazer eu mesmo uma fogueira. Nadar, cavalgar – adoro essas coisas. Afinal, cresci em uma fazenda. Fogo, água, terra, é daí que viemos. Temos que prestar atenção para não nos esquecermos disso.” Sua geração, afirma Webber, será provavelmente a última a ainda ter que fazer malabarismos neste confuso estado intermediário: conhecer ambos mundos, o antigo, totalmente analógico, e o novo, altamente tecnicista. Ele tem prazer em simplesmente entrar no carro e dirigir. Estar presente com todos os sentidos, mudar a marcha, frear, acelerar na hora certa – “fazer tudo o que aprendi quando era um jovem piloto de corridas.” Dirigir pessoalmente, não ser apenas um passageiro. Uma rara aptidão, cada vez mais escassa. “Às vezes as crianças admiram-se quando passo com meu 356: ‘Olha só, o cara sabe dirigir um carro, uau!’” Daqui a dez, vinte anos isso será algo muito especial.”